terça-feira, 30 de junho de 2015

Atividades - 3º Ano

     
TEXTO 1:

Nas brincadeiras, muitas vezes brutas, dos filhos de senhores de engenho, os moleques serviam paratudo: eram bois de carro, eram cavalos de montaria, eram bestas de almanjarras, eram burros de liteiras e de cargas as mais pesadas. Mas principalmente cavalos de carro. Ainda hoje, nas zonas rurais menos invadidas pelo automóvel, onde velhos cabriolés de engenho rodam pelo massapé mole, entre os canaviais, os meninos brancos brincam de carro de cavalo “com moleques e até molequinhas filhas das amas”, servindo de parelhas. Um barbante serve de rédea; um galho de goiabeira, de chicote.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala. 51. ed. São Paulo: Global Editora, 2008. p. 419-420.

1. Com base no texto e na imagem, relembre as noções de cidadania estudadas no início de fevereiro e reflita sobre as condições dos escravos no período colonial e após a Independência.


Texto 2:

No final do século XIX, a maioria da população brasileira (cerca de 85%), incluindo muitos dos grandes proprietários de terras, era analfabeta e vivia nas áreas rurais. Além disso, a população que vivia no campo estava submetida à influência dos senhores de terras, detentores de poderes políticos, os chamados “coronéis”. De acordo com José Murilo de Carvalho (2008, p. 29-30): “As mulheres não votavam, e os escravos, naturalmente, não eram considerados cidadãos”. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.
Após a proclamação da República, em 1889, a Constituição de 1891 definiu o cidadão brasileiro como: 1) todas as pessoas nascidas no Brasil; 2) todos os filhos de pai e mãe brasileiros, mesmo ilegítimos, nascidos no exterior; 3) todos os filhos de pai brasileiro residentes no exterior; 4) todos os estrangeiros que viessem a estabelecer residência permanente; 5) todos os estrangeiros que viessem a casar e/ou ter filhos com brasileiros e residissem no Brasil; 6) todos os estrangeiros naturalizados.
Fonte: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao91.htm>. Acesso em: 20 maio 2013.
A Constituição de 1891 retirou do Estado a obrigação de fornecer educação primária à população. Também estabeleceu o direito de votar a todos os cidadãos do sexo masculino maiores de 21 anos, exceto os mendigos, os analfabetos, os soldados e os membros das ordens religiosas. É importante ressaltar que os direitos de cidadão brasileiro eram suspensos em caso de “incapacidade física ou moral” e “por condenação criminal, ou enquanto durassem seus efeitos” e eram perdidos “por naturalização em país estrangeiro” ou “aceitação de emprego ou pensão de Governo estrangeiro, sem licença do Poder Executivo federal”. Fonte: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao91.htm>.

Texto3:
Democracia, educação no Brasil

O lado dramático e cruel da situação educacional brasileira está exatamente aí. O homem da camada social dominante tira proveito das deformações de sua concepção de mundo. Ao manter a ignorância, preserva sua posição de mando, com os privilégios correspondentes. O mesmo não sucede com o homem do Povo. As deformações de sua concepção de mundo atrelam-no, indefinidamente, a um estado de incapacidade, miséria e subserviência. Transformar essa condição humana, tão negativa para a sociedade brasileira, não poderia ser uma tarefa exclusiva das escolas. Todo o nosso mundo precisaria reorganizar-se, para atingir-se esse fim. No entanto, é sabido que as escolas teriam uma contribuição específica a dar, como agências de formação do horizonte intelectual dos homens. Cabia à lei fixar certas condições, que assegurassem duas coisas essenciais: a equidade na distribuição das oportunidades educacionais; a conversão das escolas em instituições socializadoras, pondo cobro ao divórcio existente entre a escolarização e o mio social. Ainda aqui a lei se mostra parcial e inoperante. Atende aos interesses dos novos círculos de privilegiados da sociedade brasileira, como as classes médias e ricas das grandes cidades, e detém-se diante do desafio crucial: a preparação do homem para a democracia, que exige uma educação que não seja alienas política, social e historicamente.
FERNANDES, Florestan. Educação e sociedade no Brasil. São Paulo: Dominus/Edusp, 1966.p.537

Responda as questões abaixo:

1- Qual é a função da educação em uma sociedade democrática? 
2- Que problemas o autor identifica na educação no Brasil?
3- Com base no que estudamos até agora, o que é preciso para “ser cidadão”?
4- E como é possível para um cidadão conhecer os seus direitos?
5- Com base nos conteúdos discutidos até agora e nos textos, elabore em seu caderno uma dissertação comparando a situação dos brasileiros em relação à cidadania hoje e no final do século XIX.         

A relação entre estabelecidos e outsiders

Para quem tiver mais interesse sobre a relação entre estabelecidos e outsiders é só clicar aqui .

A relação entre estabelecidos e outsiders - 2º ano 1ª parte

A relação entre estabelecidos e outsiders

●Norbert Elias nasceu na cidade de Breslau, em 1897, na antiga Alemanha. Atualmente a cidade chama-se Wroclaw e fica na Polônia (mudança ocorrida depois da Segunda Guerra Mundial). Elias, portanto, se considerava alemão e Breslau, uma cidade alemã;
●Era filho de judeus. Primeiro estudou Medicina, depois Filosofia e, por fim, interessou-se pela Sociologia. Com os ânimos exaltados na Alemanha e a Segunda Guerra Mundial quase começando, foi para a Inglaterra com medo das perseguições que já ocorriam na Alemanha;
●Seu primeiro livro foi publicado em 1938 e passou os trinta anos seguintes esquecido;
●Elias viajou por vários países, tendo morado até na África, onde lecionou na Universidade de Gana; f ele sempre foi um outsider na Academia. Ou seja, sofreu preconceito e só conseguiu o reconhecimento pela sua obra tardiamente, quando beirava os setenta anos

Publicado pela primeira vez em 1965, Os estabelecidos e os outsiders foi escrito em parceria com John L. Scotson. Nele, Elias faz uma análise das tensões entre dois grupos na pequena Winston Parva. A princípio, seu estudo era sobre os diferentes níveis de delinquência encontrados entre o lado mais novo da cidade e o antigo. Mas, no decorrer da pesquisa, ele mudou seu objeto para as relações entre os bairros. Sua decisão de mudar de objeto se mostrou acertada ois as diferenças entre os níveis de delinquência praticamente acabaram no terceiro ano da pesquisa. O bairro mais antigo, contudo, continuava a ver a nova área como local de delinquência. Elias verificou que naquela pequena localidade era possível encontrar um tema universal: como um grupo estabelecido estigmatiza um outro grupo tratando-o como outsider.
Tal relação entre estabelecidos e outsiders normalmente é explicada como resultado de diferenças raciais, étnicas ou religiosas – como aquelas que a sala provavelmente forneceu –, mas que em Winston Parva os grupos não diferiam entre si pela nacionalidade, ascendência étnica, cor ou tipo de ocupação. Logo, o que estava em jogo naquela pequena cidade e o que está em jogo numa relação entre estabelecidos e outsiders não é a diferença de cor, religião, ou qualquer outra entre os grupos, mas sim a diferença de poder.
Elias mostrou que o problema não está nessas características que podem diferenciar os grupos, mas no fato de que uns grupos têm mais poder e acham que por isso são melhores do que os outros. Os grupos detentores de mais poder usam essas diferenças porque se veem como superiores. A questão é a diferença no equilíbrio de poder entre eles. Ou seja, em última instância, não é a cor, a religião, a nacionalidade etc., que faz um grupo ver outro como inferior, e sim o fato de que eles detêm maior poder e, assim, usam esses fatores como justificativa para manter esse poder. Isso tanto pode ser feito de forma inconsciente quanto consciente. Ou seja, um grupo pode manipular as características de outro de forma negativa a seu favor, de propósito, como pode fazer isso de forma inconsciente.
No caso da cidade estudada por Elias, a única diferença entre as duas áreas era o tempo de residência: um grupo estava lá havia duas ou três gerações e o outro chegara recentemente. A superioridade não tinha a ver com poder militar ou econômico, mas com o alto grau de coesão das famílias (ELIAS; SCOTSON, 2000. p. 22).
“O termo outsider não tem uma tradução muito fácil para a língua portuguesa. Literalmente, significa “de fora”, ou seja, alguém que veio de outro lugar e não é membro original de um grupo, não se encaixa muito bem nele. Mas dizer em português que alguém é um “de fora” soa um tanto estranho aos nossos ouvidos. É por isso que o termo não é traduzido e usa-se a expressão em inglês. Na obra Os estabelecidos e os outsiders, Norbert Elias aplica a categoria “outsider” para referir-se aos habitantes mais novos de Winston Parva. No entanto, utiliza também para designar de forma geral os grupos que detêm menos poder. Em contraposição à categoria de “outsider”, Elias denomina os antigos moradores da cidade de “estabelecidos”, que também aplica para designar os grupos que detêm mais poder.”
Os estabelecidos consideram-se humanamente superiores. Isto é, os grupos poderosos veem-se como pessoas melhores. A inferioridade de poder é vista como inferioridade humana, e por isso recusam-se a ter qualquer contato maior com os outsiders que não seja o meramente profissional.
Isso ocorre porque os estabelecidos acreditam que são dotados do que Elias chama de “uma espécie de carisma grupal”, um tipo de qualidade que faltaria aos outsiders.
Tal relação entre estabelecidos e outsiders normalmente é explicada como resultado de diferenças raciais, étnicas ou religiosas – como aquelas que a sala provavelmente forneceu –, mas que em Winston Parva os grupos não diferiam entre si pela nacionalidade, ascendência étnica, cor ou tipo de ocupação. Logo, o que estava em jogo naquela pequena cidade e o que está em jogo numa relação entre estabelecidos e outsiders não é a diferença de cor, religião, ou qualquer outra entre os grupos, mas sim a diferença de poder.
Elias mostrou que o problema não está nessas características que podem diferenciar os grupos, mas no fato de que uns grupos têm mais poder e acham que por isso são melhores do que os outros. Os grupos detentores de mais poder usam essas diferenças porque se veem como superiores. A questão é a diferença no equilíbrio de poder entre eles. Ou seja, em última instância, não é a cor, a religião, a nacionalidade etc., que faz um grupo ver outro como inferior, e sim o fato de que eles detêm maior poder e, assim, usam esses fatores como justificativa para manter esse poder. Isso tanto pode ser feito de forma inconsciente quanto consciente. Ou seja, um grupo pode manipular as características de outro de forma negativa a seu favor, de propósito, como pode fazer isso de forma inconsciente.
No caso da cidade estudada por Elias, a única diferença entre as duas áreas era o tempo de residência: um grupo estava lá havia duas ou três gerações e o outro chegara recentemente. A superioridade não tinha a ver com poder militar ou econômico, mas com o alto grau de coesão das famílias (ELIAS; SCOTSON, 2000. p. 22).

Responda as questões abaixo:

1. Na sua opinião, que fatores podem levar um grupo a hostilizar outro?
2. Relacione a vida de Norbert Elias com a sua análise sobre os estabelecidos e os outsiders.
3. Por que os estabelecidos se viam como melhores do que os outsiders em Winston Parva?

Aculturação e assimilação - 2º Ano

Conceitos de aculturação e assimilação

O termo “aculturação” foi criado em 1880 por um antropólogo chamado J. W. Powell para designar as transformações dos modos de vida e pensamento dos imigrantes em contato com a sociedade norte-americana (CUCHE, 2002, p. 114).
A aculturação não significa “deculturação” simplesmente. Pois o “a” na frente não tem o sentido de “falta de” ou “privação”, como ocorre com outras palavras. Por exemplo: amorfo, sem forma, ou ainda amoral, como alguém que não tem moral. Não é esse o caso da palavra aculturação. O “a” no início da palavra vem etimologicamente do latim ad, que significa um movimento de aproximação.
Com o passar do tempo, a palavra se transformou em conceito para explicar o contato entre diferentes povos. E a partir de então o termo passa a significar:

“A aculturação é o conjunto de fenômenos que resultam de um contato contínuo e direto entre grupos de indivíduos de culturas diferentes e que provocam mudanças nos modelos (patterns) culturais iniciais de um ou dos dois grupos. ”
CUCHE, Dennys. A noção de cultura nas Ciências Sociais. 2. ed. Bauru: EDUSC, 2002. p. 115.

A aculturação:
·         não é necessariamente sinônimo de mudança cultural;
·         não é apenas difusão de traços culturais;
·         não pode ser confundida com assimilação.

A aculturação não é necessariamente sinônimo de mudança cultural. Toda cultura muda. Não há cultura que permaneça estática, que não se transforme, pois, a cultura é um eterno processo. A mudança cultural é parte de toda cultura. Entretanto, algumas mudam mais rápido, outras mais devagar.
Por exemplo: muitos grupos indígenas que, segundo o senso comum, dão a impressão de não mudar, porém isso ocorre, pois nós não os conhecemos direito. As culturas mudam não só devido a causas externas, isto é, elas não mudam apenas pelo contato com outras culturas, mas também devido a fatores internos à própria cultura. E se a aculturação vem do contato com outros povos, confundi-la com mudança cultural é deixar de lado toda uma parte da mudança cultural que é a transformação por fatores internos à própria cultura.
A aculturação não é somente difusão de traços culturais. Pois ela é um processo maior e mais complexo do que a difusão de traços e características que pode ocorrer sem que povos entrem em contato direto entre si. Por exemplo, por meio de livros, revistas, filmes etc., mas a aculturação pressupõe justamente o contato direto de pessoas de diferentes grupos.

A aculturação não pode ser confundida com assimilação. Ela não é sinônimo de assimilação. Povos aculturados não são necessariamente assimilados. Pois nem todo processo de aculturação resulta necessariamente na assimilação total de um grupo por outro:

“Por outro lado, não se pode confundir aculturação e ‘assimilação’. A assimilação deve ser compreendida como a última fase da aculturação, fase aliás raramente atingida. Ela implica o desaparecimento total da cultura de origem de um grupo e na interiorização completa da cultura do grupo dominante.”
CUCHE, Dennys. A noção de cultura nas Ciências Sociais. 2. ed. Bauru: EDUSC, 2002. p.116.

De fato, a assimilação seria a última etapa de todo o processo de aculturação devido ao contato de dois grupos, pois implica o fim da culturade um dos grupos, uma vez que a cultura do segundo grupo é totalmente assimilada pelo primeiro. Ora, a assimilação total de um grupo por outro é algo muito difícil de ocorrer. E, assim, a aculturação na grande maioria das vezes não provoca o fim de uma das culturas. Na verdade, na maioria das vezes ambos os grupos se modificam. É verdade que as modificações são em geral maiores em um grupo do que no outro. Dificilmente um dos grupos acaba. Os novos costumes, ou características, são sempre internalizados por ele de acordo com a sua lógica interna. Apesar das modificações, a lógica interna permanece muitas vezes. Com isso mantém-se a forma de raciocinar do grupo.

Por exemplo: o uso de roupas ocidentais por grande parte da humanidade não faz com que os grupos deixem de pensar como sempre pensaram. A incorporação do jeans e da camiseta como quase um uniforme por todos os jovens não faz com que eles pensem da mesma forma ou que deixem de ter seus valores de acordo com a cultura na qual estão inseridos. O que não significa que não sejam influenciados pelos valores de outra cultura.

É verdade também que às vezes as mudanças são tão intensas que pode ocorrer de o grupo realmente acabar.

De qualquer forma, é sempre bom destacar que praticamente não há cultura que não se modifique pelo contato com outra. Ou seja, que o processo de aculturação quase sempre se dá dos dois lados. É por isso também que há autores que vão criticar a ideia de aculturação, pois ela muitas vezes parece não dar conta de que o processo é recíproco, mesmo que raras vezes seja simétrico. Normalmente é um processo assimétrico. Uma cultura quase sempre se transforma mais do que a outra, pois as culturas não estão em pé de igualdade.

A Era Vargas durante a segunda Guerra Mundial pode ser um exemplo. Os estrangeiros dos países do Eixo aqui residentes foram proibidos de falar suas respectivas línguas, seus jornais foram fechados, e muitos locais tiveram que mudar seus nomes. Durante esse período, os estrangeiros que aqui viviam foram forçados a passar por um processo de assimilação da cultura brasileira.


Responda as questões abaixo:

1. Aculturação é sinônimo de assimilação? Por quê?
2. Explique a relação entre mudança cultural e aculturação.
3. Aculturação é sinônimo de difusão cultural? Por quê?
4. Escreva um breve texto que discuta o uso do jeans pelos jovens e os processos de aculturação e assimilação.

Atividade 2º ano - Migração


Texto 1

Por que as pessoas migram? Eis uma pergunta tradicional que nunca recebeu uma resposta completa, mas que deu ensejo a muitas publicações e debates. A questão básica envolve o peso dos fatores de expulsão ou de atração e a maneira como se equilibram. Para começar, deve-se dizer que a maioria dos migrantes não deseja abandonar suas casas nem suas comunidades. Se pudessem escolher, todos – com exceção dos poucos que anseiam por mudanças e aventuras – permaneceriam em seus locais de origem. A migração, portanto, não começa até que as pessoas descobrem que não conseguirão sobreviver com seus meios tradicionais em suas comunidades de origem. Na grande maioria dos casos, não logram permanecer no local porque não têm como alimentar-se nem a si próprias nem a seus filhos. Num número menor de casos, dá-se a migração ou porque as pessoas são perseguidas por sua nacionalidade – como as minorias dentro de uma cultura nacional maior – ou seu credo religioso minoritário (dos judeus aos menonitas e aos dissidentes da Igreja russa ortodoxa) é atacado pelo grupo religioso dominante. Uma vez que as condições econômicas constituem o fator de expulsão mais importante, é essencial saber por que mudam as condições e quais são os fatores responsáveis pelo agravamento da situação crítica que afeta a capacidade potencial dos emigrantes de enfrentá-la. Nessa fórmula, três fatores são dominantes: o primeiro é o acesso à terra e, portanto, ao alimento; o segundo, a variação da produtividade da terra; e o terceiro, o número de membros da família que precisam ser mantidos. Na primeira categoria estão as questões que envolvem a mudança dos direitos sobre a terra, suscitada via de regra pela variação da produtividade das colheitas, causada, por sua vez, pela modernização agrícola em resposta ao crescimento populacional. Nas grandes migrações dos séculos XIX e XX – época em que chegaram à América mais de dois terços dos migrantes –, o que de fato contava era uma combinação desses três fatores.
KLEIN, Herbert S. Migração internacional na história das Américas. In: FAUSTO, Boris (Org.). Fazer a América:  a imigração em massa para a América Latina. São Paulo: Edusp, 2000. p. 1314.

“Vamos para a América
Naquele belo Brasil
Aqui ficam os nossos ricos senhores
A trabalhar a terra com a enxada [...].”
Música italiana tirada de La Grande Emigrazione, de Emilio Franzina. Veneza: Marsílio Editori, 1976. p. 204.

“O carro já está em frente à porta,
Partimos com a mulher e filharada,
Emigramos para a terra prometida,
Ali se encontra ouro como areia.
Logo, logo estaremos no Brasil.”
Música alemã tirada do livro O imigrante alemão, de Carlos Fouquet. São Paulo: Instituto Hans Staden, 1974. p. 82.

Texto 2

Esse era o imaginário a respeito da América que prevalecia na Europa desde o século XVI e que, a partir de meados do século XIX, serviu de atrativo para grande parcela da população camponesa de vários países europeus. É preciso, contudo, entender as condições de vida dessa população em um continente que passava por muitas transformações decorrentes da transição da economia feudal para a economia capitalista, e do desenvolvimento da industrialização. Segundo Zuleika Alvim [Imigrantes: a vida privada dos pobres do campo. In: NOVAIS, Fernando A. (Org.). História da vida privada no Brasil – República: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 219-220], em linhas gerais, podemos apontar os seguintes fatores para esse processo histórico:

•  concentração da terra nas mãos de poucos proprietários, expulsando os trabalhadores rurais do campo;
•  endividamento dos pequenos proprietários rurais devido às altas taxas de impostos sobre a propriedade, o que levava à solicitação de empréstimos;
•  dificuldade do pequeno proprietário de enfrentar a concorrência da oferta de produtos a preços inferiores por parte dos grandes proprietários;
•  grande concentração dessa população expulsa do campo nas cidades, criando uma reserva de mão de obra para a indústria nascente;
•  impossibilidade de absorção, sobretudo na Itália e na Alemanha, de todos esses trabalhadores pela indústria;
•  acentuado crescimento demográfico, com a população europeia aumentando duas vezes e meia;
• desenvolvimento tecnológico, com a máquina substituindo o trabalho do homem. Entretanto, o sonho de “fazer a América” não era tão facilmente realizado. A vida desses imigrantes foi marcada, especialmente no início, por muito trabalho, dificuldades de adaptação à língua, costumes e hábitos diferentes. E, além do preconceito que sofriam no país de origem, foram vítimas de preconceito no Brasil, reproduzindo aqui as visões negativas que opunham alemães do norte ao sul, italianos setentrionais a italianos meridionais, alemães a poloneses, italianos a japoneses (ALVIM, 1998, p. 269).- Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

Com base na aula e na leitura dos textos, responda às questões.

1. Por que as pessoas migram?
2. Por que muitos ficam e não voltam?
3. O autor do Texto 1 aponta a perseguição como uma possível razão para a migração. Mas perseguição do quê? De quem? Você pode dar outros exemplos, além dos mencionados no texto, considerando o contexto dos séculos XIX e XX?
4. A partir da leitura dos textos sobre migração europeia, explique por que muitas pessoas deixaram os campos e foram morar nas cidades.
5. Com base nas músicas cantadas na época da imigração, nas fotos de imigrantes e na discussão em sala, explique se a imagem idealizada pelos europeus estava de acordo com a realidade aqui encontrada.