Conceitos de
aculturação e assimilação
O termo “aculturação”
foi criado em 1880 por um antropólogo chamado J. W. Powell para designar as
transformações dos modos de vida e pensamento dos imigrantes em contato com a
sociedade norte-americana (CUCHE, 2002, p. 114).
A aculturação não
significa “deculturação” simplesmente. Pois o “a” na frente não tem o sentido
de “falta de” ou “privação”, como ocorre com outras palavras. Por exemplo:
amorfo, sem forma, ou ainda amoral, como alguém que não tem moral. Não é esse o
caso da palavra aculturação. O “a” no início da palavra vem etimologicamente do
latim ad, que significa um movimento de aproximação.
Com o passar do
tempo, a palavra se transformou em conceito para explicar o contato entre
diferentes povos. E a partir de então o termo passa a significar:
“A aculturação é o
conjunto de fenômenos que resultam de um contato contínuo e direto entre grupos
de indivíduos de culturas diferentes e que provocam mudanças nos modelos
(patterns) culturais iniciais de um ou dos dois grupos. ”
CUCHE, Dennys. A
noção de cultura nas Ciências Sociais. 2. ed. Bauru: EDUSC, 2002. p. 115.
A aculturação:
· não
é necessariamente sinônimo de mudança cultural;
· não
é apenas difusão de traços culturais;
· não
pode ser confundida com assimilação.
A aculturação não é
necessariamente sinônimo de mudança cultural. Toda cultura muda.
Não há cultura que permaneça estática, que não se transforme, pois, a cultura é
um eterno processo. A mudança cultural é parte de toda cultura. Entretanto,
algumas mudam mais rápido, outras mais devagar.
Por exemplo: muitos
grupos indígenas que, segundo o senso comum, dão a impressão de não mudar,
porém isso ocorre, pois nós não os conhecemos direito. As culturas mudam não só
devido a causas externas, isto é, elas não mudam apenas pelo contato com outras
culturas, mas também devido a fatores internos à própria cultura. E se a
aculturação vem do contato com outros povos, confundi-la com mudança cultural é
deixar de lado toda uma parte da mudança cultural que é a transformação por
fatores internos à própria cultura.
A aculturação não é
somente difusão de traços culturais. Pois ela é um processo maior e mais
complexo do que a difusão de traços e características que pode ocorrer sem que
povos entrem em contato direto entre si. Por exemplo, por meio de livros,
revistas, filmes etc., mas a aculturação pressupõe justamente o contato direto
de pessoas de diferentes grupos.
A aculturação não
pode ser confundida com assimilação. Ela não é sinônimo de assimilação. Povos
aculturados não são necessariamente assimilados. Pois nem todo processo de
aculturação resulta necessariamente na assimilação total de um grupo por outro:
“Por outro lado, não
se pode confundir aculturação e ‘assimilação’. A assimilação deve ser
compreendida como a última fase da aculturação, fase aliás raramente atingida.
Ela implica o desaparecimento total da cultura de origem de um grupo e na
interiorização completa da cultura do grupo dominante.”
CUCHE, Dennys. A
noção de cultura nas Ciências Sociais. 2. ed. Bauru: EDUSC, 2002. p.116.
De fato, a
assimilação seria a última etapa de todo o processo de aculturação devido ao
contato de dois grupos, pois implica o fim da culturade um dos grupos, uma vez
que a cultura do segundo grupo é totalmente assimilada pelo primeiro. Ora, a
assimilação total de um grupo por outro é algo muito difícil de ocorrer. E,
assim, a aculturação na grande maioria das vezes não provoca o fim de uma das
culturas. Na verdade, na maioria das vezes ambos os grupos se modificam. É
verdade que as modificações são em geral maiores em um grupo do que no outro.
Dificilmente um dos grupos acaba. Os novos costumes, ou características, são
sempre internalizados por ele de acordo com a sua lógica interna. Apesar das
modificações, a lógica interna permanece muitas vezes. Com isso mantém-se a
forma de raciocinar do grupo.
Por exemplo: o uso de
roupas ocidentais por grande parte da humanidade não faz com que os grupos
deixem de pensar como sempre pensaram. A incorporação do jeans e da camiseta
como quase um uniforme por todos os jovens não faz com que eles pensem da mesma
forma ou que deixem de ter seus valores de acordo com a cultura na qual estão
inseridos. O que não significa que não sejam influenciados pelos valores de
outra cultura.
É verdade também que
às vezes as mudanças são tão intensas que pode ocorrer de o grupo realmente
acabar.
De qualquer forma, é
sempre bom destacar que praticamente não há cultura que não se modifique pelo
contato com outra. Ou seja, que o processo de aculturação quase sempre se dá
dos dois lados. É por isso também que há autores que vão criticar a ideia de
aculturação, pois ela muitas vezes parece não dar conta de que o processo é
recíproco, mesmo que raras vezes seja simétrico. Normalmente é um processo
assimétrico. Uma cultura quase sempre se transforma mais do que a outra, pois
as culturas não estão em pé de igualdade.
A Era Vargas durante
a segunda Guerra Mundial pode ser um exemplo. Os estrangeiros dos países do
Eixo aqui residentes foram proibidos de falar suas respectivas línguas, seus
jornais foram fechados, e muitos locais tiveram que mudar seus nomes. Durante
esse período, os estrangeiros que aqui viviam foram forçados a passar por um
processo de assimilação da cultura brasileira.
Responda as questões
abaixo:
1. Aculturação é
sinônimo de assimilação? Por quê?
2. Explique a relação entre mudança
cultural e aculturação.
3. Aculturação é sinônimo de difusão
cultural? Por quê?
4. Escreva um breve texto que discuta o uso do jeans pelos
jovens e os processos de aculturação e assimilação.
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