O papel da linguagem na transmissão cultural e os meios de
comunicação de massa
Como vivemos em sociedade, não é possível deixar de lembrar
que não há cultura individual e que toda cultura é socialmente partilhada. O
homem, ao nascer, é absolutamente frágil, um dos seres mais frágeis que
existem. Assim como outros mamíferos, ele precisa que alguém lhe dê água,
comida, abrigo e que cuide de sua higiene.
Mas, ao contrário do que ocorre com os outros animais,
pode-se ensinar praticamente tudo a um ser humano já na primeira infância.
Assim, um bebê nascido no Brasil e criado por outra família na China vai agir
falar e pensar de acordo com os hábitos culturais da família que o adotou. Ele
poderá não gostar de arroz com feijão e ter dificuldade de pronunciar palavras
da língua portuguesa, caso algum dia retorne para cá. Ele pensará como um
chinês e falará como tal. Provavelmente gostará de comidas que, para o paladar
brasileiro, são consideradas inadmissíveis, como escorpiões e certos tipos de
insetos. Certamente terá maior facilidade em comer com fachis (em japonês,
hashis, os “palitos” que muitos povos asiáticos utilizam para se alimentar).
Enfim, agirá e pensará como um chinês, embora tenha nascido de pais
brasileiros. O mesmo não ocorre com os animais. Um gato, por exemplo, pode até
ser criado com uma família de cachorros, mas nunca latirá. Isso porque seu
comportamento é regido muito mais pelos instintos.
Logo, para os seres humanos, a linguagem tem papel
importantíssimo na apreensão dos conteúdos simbólicos, pois é por meio dela que
nos tornamos seres humanos. É por intermédio dela que os padrões culturais são
transmitidos por meio de símbolos e sinais. E na nossa sociedade existem vários
mecanismos de transmissão cultural.
Alguns grupos dos quais fazemos parte são importantes
mecanismos de transmissão cultural, como a família, os amigos, o trabalho, a
vizinhança, a escola, entre outros. Outros mecanismos de transmissão cultural
são os meios de comunicação, como a televisão, o rádio, a internet, os jornais,
além dos livros, das obras de arte, dos brinquedos, entre muitos outros.
Se a linguagem é essencial na transmissão cultural, cada vez
mais na nossa sociedade ela é transmitida pelos meios de comunicação de massa.
Por meio deles compreendemos o que se passa na sociedade e como devemos agir
socialmente.
Cultura versus cultura de massa
Os sociólogos não concordam entre si sobre o seu significado
e muito menos quanto à sua conotação. De forma geral, usam a palavra “massa” para
designar um grande número de pessoas, heterogêneas quanto à origem social e
geográfica, e indiferenciadas entre si quanto a normas de comportamento e
valores. O termo, às vezes, é usado de forma positiva e, em outras, de forma
negativa. Tanto pode ser usado para referir-se ao conjunto da população, quando
as pessoas falam, por exemplo, “naquela partida de futebol havia uma massa
humana imensa”, como para referir-se aos grupos populares, como em “a esgrima
não é um esporte para todos, não é um esporte para a massa” (CUCHE, 2002, p.
158). De qualquer maneira, deve-se ter muito cuidado ao falar em cultura de
massa, pois esse termo pode passar a ideia de que existiria uma cultura da
maioria da população, uma cultura de massa, e outro tipo de cultura, partilhada
por poucos. Muitos autores não trabalham mais com a divisão entre cultura
popular (entendida como cultura do povo, da maioria da população) e cultura
erudita (uma cultura partilhada por membros da elite), pois ela dá a entender
que a maioria das pessoas seria dotada de hábitos tão diferentes de outras
parcelas da população que acabariam constituindo entre si uma cultura própria.
De modo geral, acredita-se que haja uma cultura partilhada e que os diferentes
segmentos que a compõem se inserem de forma distinta numa mesma cultura
partilhada por todos. O que ocorre é que cada segmento possui um lugar próprio
dentro de uma cultura partilhada por todos.
Confunde-se cultura para as massas e cultura de massa. Uma
grande massa de indivíduos recebe uma mesma mensagem, mas isso não quer dizer
que todos a compreendam igualmente (CUCHE, 2002, p. 158). A mensagem veiculada
pelos meios de comunicação de massa dirige-se a grandes parcelas da população,
porém, seria ingênuo acreditar que todos a entendam de forma idêntica.
“Eles [a “massa”] se apropriam deles [programas de televisão],
reinterpretam-nos segundo suas próprias lógicas culturais. Uma série de
televisão como Dallas, que obteve um sucesso quase mundial, até nas favelas de
Lima, no Peru, ou nas aldeias saarianas de Argélia, não foi compreendida da
mesma maneira nem assistida pelas mesmas razões em todos os lugares, em todos
os meios sociais. Por mais “padronizado” que seja o produto de uma emissão, sua
recepção não pode ser uniforme e depende muito das particularidades culturais
de cada grupo, bem como da situação que cada grupo vive no momento da recepção.”
CUCHE, Dennys. A noção de cultura nas Ciências Sociais. 2
ed. Bauru: Edusc, 2002. p. 159-160.
Quando um produto é lançado no mercado, isso não significa
que ele será, de imediato, consumido em larga escala e que todos,
independentemente de sua idade, sexo ou grupo social ao qual pertençam, o
aceitarão sem restrições. Um bom exemplo é o do telefone. Hoje visto como
equipamento essencial para a maioria das pessoas, quando surgiu, no final do
século XIX, não foi tão bem-visto.
“Hoje, o telefone
é um importante meio de comunicação. Ele sofisticou-se e transformou-se no
telefone celular. Milhões de equipamentos são fabricados e vendidos, todos os
anos, para os mais diferentes países. Além disso, são muito cobiçados, pois
novos modelos surgem diariamente. Entretanto, sua história não foi bem-aceito
em muitos lugares. Ao que parece, era visto como um intruso no espaço privado.
Numa época marcada pela formalidade, em que era inconcebível que as pessoas se
visitassem sem convite ou agendamento prévio, esse aparelho que toca sem hora
marcada incomodava porque invadia a privacidade. Afinal, podia tocar nos
momentos mais improváveis. Como nas casas abastadas quem atendia a campainha
eram os empregados, até o ato de se levantar para atendê-lo não era bem-visto
pelos membros da elite, pois parecia um gesto servil. Logo, para que essa
invenção se tornasse um meio de comunicação de massa aceito por todos, foram necessárias
várias décadas.”
Elaborado especialmente
para o São Paulo faz escola.
Responda as questões abaixo:
1. É possível falar em cultura de massa? Exponha o que você
entendeu.
2. Explique a relação entre cultura e linguagem.
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