quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Criança, A alma do negócio - 2º Ano

Criança, A Alma do Negócio é um documentário dirigido pela cineasta Estela Renner e produzido por Marcos Nisti sobre como a sociedade de consumo e as mídias de massa impactam na formação de crianças e adolescentes.

https://www.youtube.com/watch?v=KQQrHH4RrNc

Jovens e cultura - 2º Ano

Jovens e cultura

Hoje é comum nos referirmos às pessoas entre 13 e 30 anos como jovens. Essa delimitação, às vezes, se estende às pessoas um pouco mais velhas ou mesmo mais novas. Podemos, inclusive, utilizar o termo “jovem” em vez de “adolescente”. Isso ocorre porque não há uma definição muito precisa de quando começa a idade “jovem”, tampouco de quando ela termina. Para os fins desta Situação de Aprendizagem, nos referiremos à faixa etária em que se encontram os alunos como “jovens”.
O aspecto mais relevante a ser destacado em relação ao exercício de sensibilização é  que os jovens não são todos iguais. No Brasil, essa realidade parece evidente do ponto de vista sociodemográfico em função das enormes desigualdades sociais ainda vigentes em nosso país. Porém, o que é interessante apontar, além das diferenças que podemos observar em relação à origem social dos jovens, ao sexo, ao local de moradia, ao grau de escolaridade, e a outros fatores, são as diversidades quanto aos hábitos de consumo, às práticas de lazer e de fruição, assim como às de produção de cultura e de identidade.
Embora os interesses, os hábitos de lazer e o comportamento das pessoas mais novas, em geral, tendam a ser diferentes daqueles das pessoas mais velhas, até a década de 1950, aproximadamente, não se podia dizer que os jovens se destacavam como possuidores de uma “cultura própria”, ou como consumidores de produtos específicos para sua faixa etária e praticantes de atividades de lazer circunscritas a eles. Ser jovem era mais uma fase da vida antes de se tornar adulto, com suas fragilidades e especificidades. O jovem precisava ser “preparado” para se tornar um cidadão, segundo determinados padrões considerados adequados, dependendo da sociedade na qual estava inserido.
Esse quadro começou a mudar com o surgimento da cultura e da comunicação de massa, após a Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos foram o primeiro país a se beneficiar do novo ciclo de desenvolvimento industrial que deslanchou com o final da guerra, quando houve ampla diversificação da produção e o aumento significativo dos níveis de emprego e dos benefícios do Estado de Bem-Estar Social. Esse período também foi caracterizado pelo crescimento do consumo, ampliado pela criação de novos bens e crescente importância dos meios de comunicação. Nessa época, a escolaridade obrigatória foi estendida e houve significativa expansão da oferta de empregos para os jovens recém-saídos do sistema educacional. Tais condições sociais e econômicas proporcionaram a emergência de novos estilos juvenis de vida.
“O aumento da disponibilidade e da procura por diversão e por elementos diferenciados de consumo provoca rápida resposta por parte da indústria, do comércio e da publicidade, que passa a produzir bens específicos para esse público, alimentando o espraiamento dos novos hábitos. Está montado, assim, o cenário de uma juventude fundamentalmente ligada ao seu tempo de lazer; em lanchonetes ouve rock-’n’-roll em jukebox (máquina parcialmente automatizada capaz de selecionar discos ou faixas de discos inserindo-se moedas e selecionando-se as músicas que se deseja ouvir) ou programas de auditório; consome novas mercadorias, de guloseimas (refrigerantes, chicletes etc.) a roupas (jeans, jaqueta de couro) e meios de locomoção (a motocicleta), todos marcada e distintivamente juvenis. Esses elementos aparecem como característicos de um novo padrão de comportamento – que inclui maior liberdade e autonomia para os jovens – interpretado como uma diminuição geral da autoridade e controle paternos, paralelamente a uma valorização do prazer e do consumo como fontes de gratificação imediata.
ABRAMO, Helena Wendel. Cenas juvenis: punks e darks no cenário urbano. São Paulo: Página Aberta, 1994. p. 29.



Consumo versus consumismo - 2º Ano

Consumo versus consumismo

Para alguns autores, o consumismo está mais relacionado com a criação de desejos crescentes, do que com a satisfação de necessidades. Ou seja, muitas propagandas, ao tentar vender seus produtos, não apelam para uma necessidade que o indivíduo tem e que aquele produto irá preencher ou satisfazer, e sim para desejos que ele nem sabe que tem ou que muitas vezes não tem.
Muitas vezes, as propagandas usam frases como: “Esse produto trará uma satisfação que você não espera”, ou algo similar. Ou seja, ela não vende a satisfação de uma necessidade existente, mas a criação de uma nova necessidade que a pessoa nem sabia que existia, mas que aquele produto irá suprir. Não é raro que a propaganda, transmitida pelos meios de comunicação, trabalhe a ideia de que o produto pode mudar a vida da pessoa ou de que a mesma não tem consciência de como isso poderia ser bom para ela.
A incessante criação de desejos implica a contínua substituição dos objetos, uma vez que novas necessidades são criadas o tempo todo e assim nos baseamos no excesso e no desperdício (BAUMAN, 2008, p. 53). O volume de novidades rapidamente torna obsoletas levas e levas de produtos. Há então um excesso de novidades.
Na economia consumista, a regra é que primeiro os produtos apareçam (sendo inventados, descobertos por acaso ou planejados pelas agências de pesquisa e desenvolvimento), para só depois encontrar suas aplicações. Muitos deles, talvez a maioria, viajam com rapidez para o depósito de lixo, não conseguindo encontrar clientes interessados, ou até antes de começarem a tentar. Mas mesmo os poucos felizardos que conseguem encontrar ou invocar uma necessidade, desejo ou vontade, cuja satisfação possam demonstrar ser relevante (ou ter a possibilidade de), logo tendem a sucumbir às pressões de outros produtos “novos e aperfeiçoados” (ou seja, que prometem fazer tudo o que os outros podiam fazer, só que melhor e mais rápido – com o bônus extra de fazer algumas coisas que nenhum consumidor havia até então imaginado necessitar ou adquirir) muito antes de sua capacidade de funcionamento ter chegado ao seu predeterminado fim.”
BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria.  Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p. 53-54.

O consumo faz parte de toda a vida social, pois os seres humanos precisam consumir para existir. Mas nas sociedades que passaram pelo processo de industrialização não há apenas o consumo como forma de satisfação de necessidades básicas; há também o consumismo. Ou seja, o consumo contínuo e incessante de bens, serviços e produtos muitas vezes supérfluos.
Outro ponto importante nessa discussão sobre consumo e consumismo diz respeito à questão da felicidade. Inicialmente, peça para a turma dar exemplos, com base em sua experiência pessoal, de elementos presentes na nossa cultura que podem trazer felicidade para uns e não trazer para outros. 
Por fim, estabeleça uma discussão sobre felicidade, consumismo e as propagandas analisadas. Afinal, as propagandas veiculadas pelos meios de comunicação de massa, como a televisão, o cinema, o rádio e a internet, procuram vender produtos que muitas vezes  agradam pessoas dos mais diferentes lugares.


1. Explique do que trata o texto apresentado. Cite exemplos de produtos incessantemente aperfeiçoados em nossa sociedade.


Com frequência, elas não vendem apenas produtos, mas também sentimentos, como a felicidade.

“Que os seres humanos preferiram a felicidade à infelicidade é uma observação banal, um pleonasmo, já que o conceito de “felicidade” em seu uso mais comum diz respeito a estados ou eventos que as pessoas desejam que aconteçam, enquanto a “infelicidade” representa estados ou eventos que elas querem evitar. Os dois conceitos assinalam a distância entre a realidade tal como ela é e uma realidade desejada. Por essa razão, quaisquer tentativas de comparar graus de felicidade experimentados por pessoas que adotam modos de vida distintos em relação ao ponto de vista espacial ou temporal só podem ser mal-interpretadas e, em última análise, inúteis.
Na verdade, se o povo A passou sua vida em um ambiente sociocultural diferente daquele em que viveu o povo B, seria inútil ou arrogante afirmar que A ou B era “mais feliz”. Os sentimentos de felicidade ou sua ausência derivam de esperanças e expectativas, assim como de hábitos aprendidos, e tudo isso tende a diferir de um ambiente social para outro. Assim, uma comida saborosa apreciada pelo povo A pode ser considerada repulsiva e venenosa pelo povo B. Da mesma maneira, as condições reconhecidamente capazes de tornar feliz o povo A poderiam deixar o povo B bastante infeliz e vice-versa.”
BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria.  Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p. 58-59.

2, Escreva um texto dissertativo sobre a relação entre consumo, consumismo e felicidade





Pesquisa em grupo - 2º ano

a) cada grupo deverá escolher  um produto  que recorrentemente apareceu empropagandas nos meios de comunicação. As propagandas podem ser coletadas em revistas ou jornais, em sites da internet, em catálogos, ou, quando veiculadas em outros suportes que não os impressos, como a televisão, por exemplo, transcritas e/ou anotadas;
b) os grupos devem pesquisar o maior número de propagandas que encontrarem sobre o produto escolhido.
c) a propaganda deve sempre conter texto (mesmo que pequeno e restrito a uma frase) e imagem do produto. No caso daquelas veiculadas pela televisão, a fala equivale ao texto sobre o produto;
Ao analisar esses elementos, os grupos precisam procurar entender :
a) Como um produto pode ser mostrado em texto e imagem de diferentes formas. Dependendo do produto a ser analisado, eles podem encontrar duas situações principais: propagandas sobre um mesmo produto que pouco diferem entre si (seja porque o ângulo de exposição do produto nas fotos é sempre muito parecido, seja porque os textos não são muito diferentes, como é o caso das propagandas de cerveja no verão que, independentemente da marca, mostram jovens em bares ou praias em roupas descontraídas); ou propagandas sobre um mesmo produto que apresentam uma grande  diferenciação na forma de expô-lo;
b) Se a propaganda trata das qualidades reais do produto ou se ela “vende” algo que não está ligado diretamente a ele, como, status, relacionamentos ou mesmo sentimentos (alegria, felicidade e bem-estar, por exemplo).
A pesquisa deverá constar: 
1. explicação do tipo de produto escolhido;
2. a quantidade propagandas foram analisadas
3. diferenças do(s) tipo(s) de suporte midiático em que as propagandas foram coletadas (televisão, jornal, revista, internet etc.);
4. explicação dos resultados das análises dos itens a e b;
5.  criação de uma redação unificando as informações.

O papel da linguagem na transmissão cultural e os meios de comunicação de massa / Cultura versus cultura de massa - 2º ANO

O papel da linguagem na transmissão cultural e os meios de comunicação de massa

Como vivemos em sociedade, não é possível deixar de lembrar que não há cultura individual e que toda cultura é socialmente partilhada. O homem, ao nascer, é absolutamente frágil, um dos seres mais frágeis que existem. Assim como outros mamíferos, ele precisa que alguém lhe dê água, comida, abrigo e que cuide de sua higiene.
Mas, ao contrário do que ocorre com os outros animais, pode-se ensinar praticamente tudo a um ser humano já na primeira infância. Assim, um bebê nascido no Brasil e criado por outra família na China vai agir falar e pensar de acordo com os hábitos culturais da família que o adotou. Ele poderá não gostar de arroz com feijão e ter dificuldade de pronunciar palavras da língua portuguesa, caso algum dia retorne para cá. Ele pensará como um chinês e falará como tal. Provavelmente gostará de comidas que, para o paladar brasileiro, são consideradas inadmissíveis, como escorpiões e certos tipos de insetos. Certamente terá maior facilidade em comer com fachis (em japonês, hashis, os “palitos” que muitos povos asiáticos utilizam para se alimentar). Enfim, agirá e pensará como um chinês, embora tenha nascido de pais brasileiros. O mesmo não ocorre com os animais. Um gato, por exemplo, pode até ser criado com uma família de cachorros, mas nunca latirá. Isso porque seu comportamento é regido muito mais pelos instintos.
Logo, para os seres humanos, a linguagem tem papel importantíssimo na apreensão dos conteúdos simbólicos, pois é por meio dela que nos tornamos seres humanos. É por intermédio dela que os padrões culturais são transmitidos por meio de símbolos e sinais. E na nossa sociedade existem vários mecanismos de transmissão cultural.
Alguns grupos dos quais fazemos parte são importantes mecanismos de transmissão cultural, como a família, os amigos, o trabalho, a vizinhança, a escola, entre outros. Outros mecanismos de transmissão cultural são os meios de comunicação, como a televisão, o rádio, a internet, os jornais, além dos livros, das obras de arte, dos brinquedos, entre muitos outros.
Se a linguagem é essencial na transmissão cultural, cada vez mais na nossa sociedade ela é transmitida pelos meios de comunicação de massa. Por meio deles compreendemos o que se passa na sociedade e como devemos agir socialmente.

Cultura versus cultura de massa

Os sociólogos não concordam entre si sobre o seu significado e muito menos quanto à sua conotação. De forma geral, usam a palavra “massa” para designar um grande número de pessoas, heterogêneas quanto à origem social e geográfica, e indiferenciadas entre si quanto a normas de comportamento e valores. O termo, às vezes, é usado de forma positiva e, em outras, de forma negativa. Tanto pode ser usado para referir-se ao conjunto da população, quando as pessoas falam, por exemplo, “naquela partida de futebol havia uma massa humana imensa”, como para referir-se aos grupos populares, como em “a esgrima não é um esporte para todos, não é um esporte para a massa” (CUCHE, 2002, p. 158). De qualquer maneira, deve-se ter muito cuidado ao falar em cultura de massa, pois esse termo pode passar a ideia de que existiria uma cultura da maioria da população, uma cultura de massa, e outro tipo de cultura, partilhada por poucos. Muitos autores não trabalham mais com a divisão entre cultura popular (entendida como cultura do povo, da maioria da população) e cultura erudita (uma cultura partilhada por membros da elite), pois ela dá a entender que a maioria das pessoas seria dotada de hábitos tão diferentes de outras parcelas da população que acabariam constituindo entre si uma cultura própria. De modo geral, acredita-se que haja uma cultura partilhada e que os diferentes segmentos que a compõem se inserem de forma distinta numa mesma cultura partilhada por todos. O que ocorre é que cada segmento possui um lugar próprio dentro de uma cultura partilhada por todos.
Confunde-se cultura para as massas e cultura de massa. Uma grande massa de indivíduos recebe uma mesma mensagem, mas isso não quer dizer que todos a compreendam igualmente (CUCHE, 2002, p. 158). A mensagem veiculada pelos meios de comunicação de massa dirige-se a grandes parcelas da população, porém, seria ingênuo acreditar que todos a entendam de forma idêntica.
“Eles [a “massa”] se apropriam deles [programas de televisão], reinterpretam-nos segundo suas próprias lógicas culturais. Uma série de televisão como Dallas, que obteve um sucesso quase mundial, até nas favelas de Lima, no Peru, ou nas aldeias saarianas de Argélia, não foi compreendida da mesma maneira nem assistida pelas mesmas razões em todos os lugares, em todos os meios sociais. Por mais “padronizado” que seja o produto de uma emissão, sua recepção não pode ser uniforme e depende muito das particularidades culturais de cada grupo, bem como da situação que cada grupo vive no momento da recepção.”
CUCHE, Dennys. A noção de cultura nas Ciências Sociais. 2 ed. Bauru: Edusc, 2002. p. 159-160.
Quando um produto é lançado no mercado, isso não significa que ele será, de imediato, consumido em larga escala e que todos, independentemente de sua idade, sexo ou grupo social ao qual pertençam, o aceitarão sem restrições. Um bom exemplo é o do telefone. Hoje visto como equipamento essencial para a maioria das pessoas, quando surgiu, no final do século XIX, não foi tão bem-visto.
“Hoje, o telefone é um importante meio de comunicação. Ele sofisticou-se e transformou-se no telefone celular. Milhões de equipamentos são fabricados e vendidos, todos os anos, para os mais diferentes países. Além disso, são muito cobiçados, pois novos modelos surgem diariamente. Entretanto, sua história não foi bem-aceito em muitos lugares. Ao que parece, era visto como um intruso no espaço privado. Numa época marcada pela formalidade, em que era inconcebível que as pessoas se visitassem sem convite ou agendamento prévio, esse aparelho que toca sem hora marcada incomodava porque invadia a privacidade. Afinal, podia tocar nos momentos mais improváveis. Como nas casas abastadas quem atendia a campainha eram os empregados, até o ato de se levantar para atendê-lo não era bem-visto pelos membros da elite, pois parecia um gesto servil. Logo, para que essa invenção se tornasse um meio de comunicação de massa aceito por todos, foram necessárias várias décadas.”
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

Responda as questões abaixo:
1. É possível falar em cultura de massa? Exponha o que você entendeu.

2. Explique a relação entre cultura e linguagem.

Sugestões de filme - 2º Ano

1) O visitante
Direção: T. EUA, 2009. 105 min. 
Walter Vale (Richard Jenkins) é um professor universitário de 62 anos, que não tem um objetivo na vida. Solitário desde o falecimento de sua esposa, ele permanece na universidade em que trabalha e finge ser co-autor de livros os quais nem lê. Um dia é enviado para uma conferência em Nova York, já que a autora de um destes livros está impossibilitada de comparecer. Reticente a princípio, mas sem escapatória, Water viaja. Ele resolve ficar em seu apartamento na cidade, o qual não visita há vários meses. Porém ao chegar descobre que o local agora abriga um casal de imigrantes ilegais, formado pelo sírio Tarek (Haaz Sleiman) e a senegalesa Zainab (Danai Jekesai).

2) O povo brasileiro. Direção: Isa Grinspun Ferraz.  Brasil, 2000. 280 min. Recriação da narrativa de Darcy Ribeiro. Discute a formação do povo brasileiro, destacando nossa origem mestiça e o singular sincretismo cultural dela resultante.



segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O Movimento feminista

O Movimento Feminista

Assim como tantas outras lutas, a luta das mulheres por direitos também não foi fácil. O sentido do que significa ser mulher variou ao longo da história. As mulheres foram vistas em muitas sociedades como seres inferiores, por natureza; tiveram que quebrar uma serie de preconceitos não só da parte dos homens, mas também de outras mulheres. Esta luta que na maior parte das vezes, era de um movimento de mulheres, no século XX passou a se organizar na forma do feminismo. Um movimento que ao tomar consciência do caráter histórico da condição feminina, propôs justamente a alteração dessa condição.
Pode-se dizer que o feminismo foi um movimento heterogêneo em que mulheres de diversos segmentos lutaram por direitos diferentes, dependendo de seus interesses. Isso ocorreu porque a condição feminina é plural, e tal diversidade se expressou em diferentes reivindicações.   
No Brasil os movimentos de mulheres procuram intervir no mundo público a partir da condição de dona de casa, esposa e mãe. São exemplos dessas organizações:  os movimentos contra carestia, os clubes de mães e o movimento pela anistia, entre outros. Mas o movimento feminista procurava colocar em discussão a própria condição feminina.
Na verdade, no século XIX existiam duas grandes correntes dentro do feminismo; a linha igualitarista (que era a favor da igualdade entre homens e mulheres) e a linha dualista (que valorizava a diferença da contribuição feminina).

Logo, a luta das mulheres por cidadania não foi uma luta que uniu todas as mulheres em uma mesma causa, em todos os momentos. Na verdade, aquelas pertencentes a burguesia lutava mais por direitos políticos e as pertencentes às classes trabalhadoras, por direitos trabalhistas. É por isso, que durante muito tempo, o que existiu não foi o feminismo enquanto um movimento de luta pela alteração das relações entre homens e mulheres, mas, sim movimentos de mulheres. Ou seja, as idéias e as práticas feministas nunca forma homogêneas; nem no Brasil, nem em outros países. A

Os movimentos dos Trabalhadores Rurais

Os movimentos dos Trabalhadores Rurais

Refere-se às mobilizações de grandes contingentes de pessoas que vivem e trabalham em área rural. Na situação de aprendizagem anterior, pode-se perceber que existiam, desde o século XIX, movimentos de revolta de segmentos da população rural, que lutavam contra os desmandos dos coronéis, a dificuldade de acesso à terra que lhes permitisse plantar  e garantir a sua sobrevivência, as injustiças e a sistemática expulsão de lugares de moradia. Ainda que as tentativas de organização e mobilização desses trabalhadores não tenham sido em números comparável às dos trabalhadores urbanos, algumas dessas são até hoje tidas como expressão de resistência ao contexto de mudanças que atingiam as populações camponesas.
Verifique que é no período de 1850 que cresce a luta pela reforma agrária, pela justa distribuição de terras e direitos trabalhistas, mas somente em 1963, com a criação do Estatuto do Trabalhador Rural, alguns direitos serão estendidos a essa categoria, especialmente o direito de organizar sindicatos. Logo em seguida foi criada a  Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG ) que passou a representar todos os trabalhadores rurais e desenvolver a luta em defesa dos direitos dos trabalhadores.

Alguns exemplos da luta dos trabalhadores rurais:

Ligas Camponesas – tem sua origem em 1954, pelos trabalhadores do Engenho da Galileia, da Sociedade Agrícola e Pecuária de Plantadores de Pernambuco (SAPPP).Entretanto, diante da reação do proprietário do engenho, recorreram a um advogado, Francisco Julião Arruda de Paula, que se tornou defensor dos trabalhadores e teve papel importante no fortalecimento das Ligas, as quais foram legalizadas em 1955, e, deixou após o golpe militar em 1964.

O movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra  (MST) – para falar de MST é preciso lembrar a luta pela terra que o antecedeu e a concentração da propriedade fundiária do Brasil. A história desse movimento se situa no contexto da economia brasileira e das políticas fundiárias responsáveis pela concentração de terras nas mãos de grandes proprietários e a conseqüente expulsão dos trabalhadores rurais.

O MST foi criado em 1984 tendo como objetivo a luta pela reforma agrária, a construção de uma sociedade mais justa, a expropriação de latifúndios improdutivos e o estabelecimento de uma área mínima de hectares para a propriedade rural. Está organizado em 24 Estados Brasileiros e, como forma de pressão na luta pela terra recorre à ocupações, ou seja, a instalação de grandes número de famílias em latifúndios improdutivos, os chamados acampamentos. Possui uma organização vertical, com uma direção colegiada onde todos os dirigentes têm o mesmo nível de responsabilidade. Além disso, propõe as cooperativas de produção como forma de organização das famílias assentadas, isto é quando conseguem o acesso definitivo a terra. Uma característica marcante do MST é a ênfase na educação com a criação de escolas nos assentamentos, com o objetivo de aumentar a taxa de escolaridade e o espírito critico dos trabalhadores. 

O movimento sindical no Brasil

Movimento Sindical no Brasil
Sindicato: associação, para fins de estudo, defesa e coordenação de  interesses econômicos e/ou profissionais, de todos os que (na qualidade de empregados, empregadores, agentes ou trabalhadores autônomos ou profissionais liberais) exerçam a mesma atividade ou atividades similares ou conexas.[1]
Obs* O movimento operário no Brasil possuiu várias vertentes e formas de atuação até que fossem constituídos e regularizados os sindicatos (especialmente o novo sindicato).

Os Sindicatos


         Sua origem remonta aos últimos anos do século XIX e está vinculada ao processo de transformação da economia brasileira, cujo centro agrário era o café: substituição do trabalho escravo pelo assalariado; transferência de lucro do café para a industria; e poder nas mãos do cafeicultores. Suas principais formas de organização foram: Sociedades de socorro de ajuda mútua, União operária, que com advento da indústria passou a se organizar por ramo de atividade dando origem ao sindicato.
O movimento sindical no Brasil não pode ser entendido fora do contexto histórico e político. Do ponto de vista da Sociologia, ele nasce de um longo processo de relações sociais entre grupos com interesses divergentes entre si, que detiveram posições divergentes entre si;  posições de força antagônicas no campo de poder da esfera do trabalho e, nem sempre puderam participar e atuar politicamente em condições de igualdade.
Os sindicatos nascem no bojo do operariado brasileiro, o qual se caracterizou como um segmento dividido em facções diferentes, com comportamento políticos e formas de atuação diversas, orientados por idéias e linhas de pensamento não coincidentes entre si. O patronato por sua vez, nem sempre acatou a resolução do Estado da mesma forma. E empresas diferentes adotaram medidas próprias com relação aos seus operários, não necessariamente em concordância com o que outras organizações industriais faziam. Já o Estado implementou medidas e promulgou leis  que favoreceram hora um grupo; hora outro grupo. Isso fica mais claro com a analise do contexto histórico:

Período: República Velha (1889 a 1930) – predominava como ideário político o liberalismo em sua vertente mais ortodoxa, as oligarquias e grandes proprietários rurais, bem como as elites da emergente industria nacional, que não cabia ao Estado promover a assistência social. qualquer interferência do governo era vista como violação da liberdade do exercício profissional.

Era Vargas (1930-1945) – pôs fim ao poder das velhas oligarquias. O Estado novo defendia o desenvolvimento econômico com base no crescimento industrial, na construção de ferrovias, no fortalecimento das forças armadas e da defesa nacional. Tratava-se de uma visão de Estado centralizadora e autoritária. Em nome da necessidade de manutenção da ordem social, rejeitava o conflito social e impunha a cooperação entre trabalhadores e patrões, sob a supervisão do Estado. Desse modo, empregados e empregadores eram obrigados a se filiar a sindicatos controlados pelo governo.

Era Nacional-Desenvolvimentista (1945-1964) – após a derrubada de Vargas e a convocação de eleições presidencialistas e legislativas em dezembro de 1945 o Brasil vivenciou sua primeira experiência democrática da história. Governos, militares, empresários e trabalhadores se posicionaram antagonicamente em torno das principais questões de interesse nacional da época: Guerra Fria, o petróleo e inclusive a política sindical e trabalhista. O movimento sindical desse período pela sua estreita ligação com os partidos políticos reforçava o cooperativismo e as entidades de cúpula, distanciando-se das bases operárias e de seus interesses propriamente econômicos que políticos.
Ditadura militar (1964 – 1985) – durante o regime militar os órgãos sindicais forma severamente reprimidos. Mas, foi justamente no período militar que ocorre a expansão de novos setores da economia, especialmente o de bens de consumo durável de capital. Foi entre os metalúrgicos de empresas automobilísticas multinacionais e empresas nacionais de siderurgia, maquinas e equipamentos, sobretudo da Grande São Paulo, que surgiu o novo movimento sindical. Esse movimento tem sua origem na crítica à política econômica do governo militar , especialmente a que se referia aos salários, nas lutas pelo direito de greve, autonomia e liberdade sindical, pelo direitos democráticos e na defesa de negociação direta com o patronato, afirmando assim o seu compromisso com os trabalhadores. A expressão mais forte da resistência do s trabalhadores e do movimento sindical ocorreu nas greves de 1968 e nas do final dos anos 1970 na região do ABC, tendo como liderança a categoria dos metalúrgicos.



[1] Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2007. 

O movimento operário - 3º ano

Movimento Operário
O movimento operário brasileiro viveu anos de fortalecimento entre 1917 e 1920, quando as principais cidades brasileiras foram sacudidas por greves. Uma das mais importantes foi a greve de 1917 em São Paulo, em que 70 mil trabalhadores cruzaram os braços exigindo melhores condições de trabalho e aumentos salariais. A greve durou uma semana e foi duramente reprimida pelo governo paulista. Finalmente chegou-se a um acordo que garantiu 20% de aumento para os trabalhadores.
A ascensão do movimento operário no Brasil naquele anos finais da década de 1910 relacionava-se diretamente à vitória dos comunistas na Revolução Russa. Vários grupos operários no Brasil e no mundo acreditavam que havia chegado o momento de colocar um fim à exploração capitalista e construir uma nova sociedade. Esse entusiasmo não foi suficiente, no entanto, para que a revolução se disseminasse. Os anos 20, apesar de alguns avanços em termos de legislação social, foram difíceis para o movimento operário, que foi obrigado a enfrentar grandes desafios.
O primeiro deles foi o recrudescimento da repressão por parte do governo. A justificativa apresentada era a de que o movimento operário era artificialmente controlado por lideranças estrangeiras radicais que iludiam o trabalhador nacional. Por conta disso foi aprovada no Congresso, em 1921, a Lei de Expulsão de Estrangeiros que permitia, entre outras coisas, a deportação sumária de lideranças envolvidas em distúrbios da ordem e o fechamento de organizações operárias. O principal alvo dessa lei eram os anarquistas.
A expansão do anarquismo foi rápida nas grandes cidades brasileiras nas primeiras décadas do século XX. Suas propostas de supressão do Estado e de todas as formas de repressão encontraram receptividade entre os trabalhadores naqueles tempos em que o jogo político era exclusividade das oligarquias e praticamente inexistia qualquer proteção ao trabalho. Governo e patrões eram vistos pelos anarquistas como inimigos a serem combatidos a todo custo. Suas idéias eram difundidas por meio de congressos e por uma imprensa própria e, entre outros, destacaram-se como divulgadores do ideário anarquista José OiticicaEverardo Dias e Edgard Leuenroth.
As correntes anarquistas dividiam a liderança do movimento operário com outros grupos políticos. Particularmente no Rio de Janeiro, era bastante influente uma corrente política moderada, não revolucionária, interessada em obter conquistas específicas como diminuição da jornada de trabalho e aumentos salariais. Esses grupos preocupavam-se ainda em garantir o reconhecimento dos sindicatos por parte do Estado. Ao contrário dos anarquistas, atuavam no espaço político legal apoiando e lançando candidatos. Os grupos revolucionários os chamavam pejorativamente de "amarelos".
A partir de 1922, outra corrente se definiu dentro do movimento operário: a dos comunistas. Naquele ano, embalados pela criação do primeiro Estado Socialista na Rússia, militantes brasileiros fundaram o Partido Comunista do Brasil (PCB). Entre os fundadores estavam ex-lideranças anarquistas como Astrojildo Pereira e Otávio Brandão.
Ao contrário dos anarquistas, que viam o Estado como um mal em si, os comunistas o viam como um espaço a ser ocupado e transformado. Essas concepções os levaram, seja na ilegalidade, seja nos breves momentos de vida legal, a buscar aliados e participar da vida parlamentar do país. Uma liderança que os comunistas tentaram atrair em 1927 foi Luís Carlos Prestes, que naquele ano se exilou na Bolívia. Através do Bloco Operário Camponês (BOC), sua face legal, o PCB elegeu dois vereadores para a Câmara Municipal carioca em 1928: o operário Minervino de Oliveira e o intelectual Otávio Brandão.
Todos esses esforços não foram suficientes para produzir uma mudança significativa na vida material do conjunto da classe trabalhadora no final dos anos 20. A legislação aprovada quase nunca era aplicada. Isso ocorria, entre outras razões, porque o movimento operário encontrava-se ainda limitado e restrito a alguns poucos centros urbanos

O Movimento Operário - 3º Ano

Movimento Operário no Brasil

Diferentemente do que ocorreu na Inglaterra, a formação da classe trabalhadora industrial urbana ocorreu bem mais tarde, no Brasil do que nos países europeus. Devido ao fato de que, até a vinda da Corte Portuguesa, a instalação de qualquer tipo de indústria manufatureira era proibida na colônia. Isso porque Portugal desejava deter o monopólio da comercialização de produtos manufaturados para o Brasil.  Desse modo, até 1808, a maior parte das ferramentas, dos tecidos, dos armamentos, munições cerâmicas, livros, entre outras coisas vinha de Portugal. Após a vinda da Corte (família real), deu-se a abertura dos portos para as nações amigas, O Brasil passou a comprar produtos da Inglaterra, e o consumo diversificou-se. Porém, a entrada maciça de produtos ingleses no mercado brasileiro dificultou muito o surgimento de uma indústria nacional, não havia como competir em quantidade e variedade.
O interesse no desenvolvimento industrial só foi possível a partir de 1850, quando o tráfico de escravos foi proibido. Isso gerou demanda de mão de obra e estimulo a entrada de um número significativo de imigrantes estrangeiros, que viriam ajudar a formar a classe operária assalariada. Inicialmente, as condições de trabalho dos operários de fábrica eram tão ruis quanto na Inglaterra: homens, mulheres e crianças trabalhavam longas horas, sem direitos á férias, indenização  por acidente de trabalho ou qualquer tipo de proteção por parte do Estado (a  maior parte dessas pessoas trabalhavam em fabricas nos principais centros urbanos, na virada do século XIX para o XX, no rio de Janeiro e São Paulo).

“No início dos anos 1920, a classe operária brasileira era pequena e se formara recentemente, não chegando a 300 mil pessoas. Internamente, porém, já podia ser considerada diversificada, tanto do ponto de vista social, quanto político. No Rio de Janeiro, por exemplo, a industrialização era mais antiga e o perfil do operariado tendia a ser mais nacionalizado. Segundo José Murilo de Carvalho, havia, contudo uma presença expressiva de portugueses, cuja cultura e tradição não eram muito diferentes da brasileira, e de operários do Estado e membros da população negra, incluindo ex-escravos. Comparativamente em São Paulo, a maior parte dos operários era de imigrantes, especialmente italianos e espanhóis, e a presença de empresas públicas e do operariado era pequena”.

A mistura de operários, de origens diversas gerou comportamentos políticos diferentes nas duas cidades. A presença de imigrantes e estrangeiros trouxe muitas idéias vigentes no contexto europeu para o movimento operário no Brasil, essas idéias influenciaram movimentos diferentes, e muitas vezes antagônicos. É possível identificar, nas duas primeiras décadas do século XX, pelo menos quatro grandes grupos de interesse no interior do movimento operário:

  • Amarelos ou reformistas: eram setores menos agressivos, mais próximos do governo. Ainda que buscassem a melhoria das condições de trabalho e de vida para os trabalhadores, não se opunham à ordem estabelecida, mantendo assim uma relação “clientelista” com seus empregadores.
  • Anarquistas: constituíam os setores mais radicais, que rejeitavam qualquer relação com o Estado e com a política, bem como os partidos, o Congresso e mesmo com a pátria. Para os anarquistas, o Estado ou qualquer outra instituição autoritária hierarquicamente superior era considerado dispensável e até mesmo nocivo para o estabelecimento de uma comunidade humana autêntica. Dessa forma, eram contra qualquer tipo de organização ou dominação patronal.
  • Comunistas: organizados oficialmente em1922, defendiam a tomada do poder por meio da revolução. A causa operaria dos comunistas era lutar contra o sistema capitalista, substituindo o controle do Estado pelo partido, centralizado e hierarquizado, até que pudesse ser criada uma sociedade sem classes, onde a propriedade privada seria abolida e os meios de produção seriam de todos. Desse modo, o  Estado se tornaria desnecessário e posteriormente deixaria de existir.
  • Socialistas: menos radicais que os anarquistas e comunistas, acreditavam que podiam fazer avançar os interesses da classe operaria por meio da luta política, ou seja, da conquista e do exercício dos direitos políticos.


Do ponto de vista da cidadania o movimento operário significou um avanço inegável, sobretudo ao que se refere aos direitos políticos e sociais. O movimento lutava por direitos básicos como o de organizar-se, de escolher o trabalho e fazer greve. Os operários lutaram também por uma legislação trabalhista que regulasse o horário de trabalho, o descanso semanal, as férias, e por direitos sociais, como: seguro contra acidentes de trabalho, e aposentadoria. Tudo isso teve impacto na forma como o Estado brasileiro se relacionava com as questões de trabalho na Primeira República. Até então, a posição do governo era manter-se distante das relações entre patrões e empregados, interferindo nos conflitos por meio da força policial. Naquela época a “questão operária” era entendida como uma “questão de polícia” e tendia a ser vista como uma agitação política perturbadora da ordem social. Por essa razão foram votadas leis de expulsão de operários estrangeiros acusados de anarquismo e posteriormente, a hostilidade contra setores mais radicais ficou evidente quando o partido comunista foi considerado ilegal no mesmo ano de sua fundação (1922). 

Responda das questões abaixo:
1. Quais são os fatores apontados no texto que explicam porque a formação de uma classe trabalhadora industrial urbana se desenvolveu tardiamente no Brasil?
2. As condições dessa classe trabalhadora industrial urbana no Brasil eram as mesmas que as da Inglaterra? Explique.
3. Pode-se afirmar que essa classe trabalhadora tinha a mesma formação independentemente da cidade em que se localizava? Justifique.
4. Analise as condições de trabalho.

O Conflito pela Terra - 3º ano

Texto 1:

O conflito pela terra 

 Verifique que os direitos sociais e a história da cidadania no Brasil, são fruto de um longo processo histórico, ou seja, é fruto e foram construídos em diversos contextos sociais e políticos.
É importante lembrar que mudanças introduzidas no Primeiro e Segundo Reinados não podiam ser debatidas, questionadas, defendidas ou deliberadas por representantes do povo. Durante o Império, em que vigorou uma Monarquia Constitucional, e posteriormente, após a proclamação da Primeira República, parcela significativa da população estava excluída do processo de decisão eleitoral, como apontam LUCA in PINSKY:

“A esmagadora maioria da população vivia nas áreas rurais e estava submetidas aos desígnios dos grandes proprietários. Em 1920, apenas 16,6%, dos brasileiros residiam em cidades com vinte mil habitantes ou mais, enquanto a taxa de analfabetismo girava em torno de 70%.”[1]

Vê-se ainda, que a utilização do trabalho escravo, tanto indígena quanto do negro africano, teve um profundo impacto nas relações sociais no Brasil. As populações que viviam sob esse regime sofreram a opressão do trabalho compulsório, dos maus-tratos, da tortura dos castigos, das doenças e do extermínio. Verificou-se que muitos escravos procuraram fugir da condição de cativos, refugiando-se em comunidades (quilombos), onde buscavam preservar certa autonomia, criando estilo de vida e cultura próprios, produzindo alimentos e comercializando com comunidades vizinhas; ou rebelaram-se no interior das próprias fazendas negociando melhores condições de vidas com seus senhores. Em algumas cidades, como Salvador, essas revoltas reuniram cativos e libertos de diversas origens étnicas, que lutaram pela libertação dos escravos, pela liberdade de professar suas religiões e crenças, e, pelo controle do poder local.
Por sua vez, proprietários de terras sem escravos, homens livres pobres, fossem eles brancos, mestiços, indígenas, negros libertos, escravos fugidos, pequenos comerciantes e trabalhadores que viviam do que cultivavam nos espaços de terras cedidos pelos grandes proprietários, ou daquilo que extraíam das matas e margens dos rios, sofriam a opressão dos grandes senhores de escravos, os quais detinham a maior extensão de terra e também o poder político local (eram delegados de polícia, juizes municipais ou representantes da Guarda Nacional). 
As populações mencionadas acima, tinham relações diferentes com a terra, pode-se ver, que os senhores de escravos, e após a Abolição, os fazendeiros do café  e grandes proprietários rurais. Alguns indivíduos vivam na condição de posseiros, cultivando roças e mantendo sítios em áreas que muitas vezes eram reivindicadas por grandes proprietários que obtinham direitos a elas por meio do sistema de concessão de sesmarias[2]. Outros viviam como agregados nas fazendas , sem direitos à propriedade da terra, obrigados ao pagamento de tributos, em forma de trabalho ou produtos, dependendo da época e das condições impostas pelo fazendeiro.
Perceba que as relações de poder no século XIX e início do século XX eram extremamente desiguais, e a luta política era intensa e violenta. O que estava em jogo não era o exercício de um direito de cidadão, mas o domínio político local. O chefe político local, também conhecido como coronel[3], não podia perder poder: a derrota representava desprestígio e a perda de controle de cargos públicos.
Por esse viés, a manutenção do poder por chefes locais se dava por meio do “clientelismo”, geralmente os segmentos da população mais pobre, garantia aos primeiros os votos necessários nas eleições legislativas para o Senado e para a Câmara dos Deputados durante o período da Monarquia Constitucional, perpetuando assim o poder das oligarquias[4] rurais.
As tensões sociais entraram em crise e diversos conflitos vieram à tona, como as Guerras de Canudos e Contestado, ambos movimentos marcados por uma profunda reação à injustiça dos fazendeiros, dos senhores de escravos, das oligarquias rurais, representadas pelo poder da República. Porém, deve-se ter em mente que essas revoltas embora muito diferentes entre si, ocorreram em um contexto histórico e político em que as camadas mais pobres da população não tinham representantes junto ao governo que defendessem seus interesses; as condições de vida eram muito precárias e o autoritarismo dos líderes políticos locais , bem como dos governos provinciais, não favorecia a negociação das demandas sociais dessas populações.








[1] LUCA, Tânia Regina. Direitos sociais no Brasil. In PINSKY,Jaime; Carla B. (Orgs.) História da Cidadania, 4. ed. 2. reimp. São Paulo: Contexto, 2008. p.469-470.
[2] Antigo sistema de concessão de terras consideradas incultas ou abandonadas pela Coroa portuguesa aos colonos, que perdurou até o século XIX.
[3] Na época do Império, a guarda Nacional era uma instituição militar cujo posto mais alto era o de coronel. Geralmente a pessoa que ocupava essa posição hierárquica exercia grande influencia política, sobretudo nos municípios. Com o tempo a guarda perdeu a sua natureza militar, mas aqueles que ocupavam a posição de coronel continuavam a ter muito poder. Desse modo, o termos coronel passou a se referir ao chefe político local.
[4] Forma de governo em que o poder está nas mãos de um pequeno grupo de indivíduos. 


Texto 2:

O conflito pela terra


No Brasil, a população que aqui residia, em sua diversidade, sejam nações indígenas, os diversos grupos escravos de origens étnicas as mais variadas, as populações ribeirinhas, os camponeses e trabalhadores rurais, homens livres e negros libertos, pequenos comerciantes, mestiços e outros que compunham a maior parte do que hoje denominamos “povo brasileiro, sempre encontrou meios de se manifestar, organizar, mobilizar e atuar em muitas formas, de modo a reivindicar interesses mudanças junto aos grupos sociais dominantes. Embora, não se possa falar ainda em movimentos populares propriamente ditos, constituem participações políticos relevantes na história do Brasil”.
Revoltas e rebeliões, em geral, ocorreram pela disputa e posse de territórios, pelo direito à exploração de minérios, especialmente o ouro, e também de exercer atividades comerciais, vendendo e usufruindo livremente do lucro obtido a partir da comercialização da sua produção, revolta quanto ao aprisionamento e escravização de índios e negros africanos, cobrança de impostos pelo governo, abuso de poder das autoridades e opressão de oligarquias rurais sobre a população mais pobre, que vivia do trabalho da terra.
Tais revoltas e rebeliões se assemelharam por terem sido de forte caráter popular e, na maior parte das vezes, terem contado com a participação de vários grupos dos setores mais pobres da população, como populações ribeirinhas, homens livres pobres, mestiços, negros “de ganho” e escravos, sertanejos entre outros. Diferem pelas motivações e circunstâncias que levaram aos acontecimentos. Por exemplo:
* Durante o Primeiro Reinado (1832-1840) tiveram um caráter fortemente oposicionista aos governos locais e, muitas vezes, traziam o objetivo de tomar o poder e tornar independente do restante a província ou região do Brasil.
*  A partir de 1850, ocorreram revoltas contra medidas adotadas pelo governo que interferiam na vida da população de formas consideradas ilegítimas (esse foi o entendimento em relação à interferência do Estado nas funções tradicionalmente atribuídas à Igreja (secularização) e, na mudança do sistema de pesos e medidas, que transformaram a comercialização dos produtos então vigente).
*  Já na instauração da República (1889), os movimentos populares tiveram como principais características a luta pela terra , a oposição ao poder dos coronéis e das empresas exploradoras das regiões em disputa e a força da religiosidade popular, que mobilizou as populações em torno de suas crenças contra as forças do governo arregimentadas para combatê-las.

Questões:
1. Com base no texto cite os principais fatores que levaram às revoltas e rebeliões no Brasil do século XIX.
2. Utilizando o texto compare os eventos ocorridos em 1832 e 1840 e aqueles ocorridos a partir de 1851 (quais suas características, em que se assemelham e, em que se diferenciam). 

Revoltas Sociais no Brasil - 3ºano

Data
Evento
Local
Atores sociais envolvidos
Características
1832 a 1835
Revolta dos Cabanos
Pernambuco e Alagoas
Pequenos proprietários, índios, brancos pobres sem-terra e sem-trabalho e negros fugidos, liderados  pelo mulato Vicente Ferreira de Paula.
Os rebelados tinham como principais demandas sociais a libertação dos escravos e a posse da terra na região das matas entre o sertão e a zona litorânea de Pernambuco e Alagoas, reivindicada pelos grandes senhores de terras, de onde os cabanos tiravam seu sustento. A revolta durou três anos e foi enfrentada pelas tropas do governo em forma de guerrilha, nas matas da região.
1835 a 1840
Cabanagem
Belém (PA), na então província do Grão-Pará.
Índios chamados de “tapuios”, negros libertos e mestiços, liderados pelo lavrador Francisco Vinagre e pelo seringueiro Eduardo Angelim.
A principal motivação para a revolta foram as ações do governo da província do Grão-Pará, considerado impopular e responsável pela miséria em que essas populações viviam. Os cabanos tomaram a capital, Belém (PA), mataram o governador e decretaram independência em relação ao Império brasileiro. A luta continuou até 1840; foi a rebelião mais sangrenta da história do Brasil, com cerca de 30 mil mortos (20% da população).
1835
Revolta dos Malês
Salvador (BA)
Negros alforriados e escravos muçulmanos nagôs, que  se uniram  a outros das nações iorubá, hauçá,  jeje e tapa.
Embora não tivessem um projeto político definido, pretendiam tomar o governo e se tornar livres, a fim de professar suas crenças religiosas e vivenciar suas identidades étnicas em um país predominantemente católico e fortemente dominado por um regime senhorial escravocrata.
1838 a 1840
Balaiada
Maranhão  e Piau
Vaqueiros, artesãos e escravos  fugitivos,  liderados  pelo fabricante de balaios Manoel  Francisco Gomes.
As origens da Balaiada  estão nos desmandos e abusos de poder perpetrados pelas autoridades locais que, em um momento de forte crise da economia maranhense, conduziram ao levante das populações locais contra o governo provincial. Os “balaios” chegaram a reunir 11 mil homens armados e tomaram a cidade de Caxias (MA), mas foram derrotados em 1840 por Luís Alves de Lima e Silva, que veio a se tornar o Duque de Caxias.
1851 a 1852
Revolta contra o Censo Geral do Império e o Registro Civil de Nascimentos e Óbito
Todas as províncias  do Nordeste  e norte de Minas Gerais
Camponeses e trabalhadores rurais pobres.
Até 1850, o único registro que havia era dos escravos que entravam no país. Por isso, a população temia que o governo estivesse estabelecendo um novo tipo de escravidão ao impor o censo. O registro civil de nascimentos foi interpretado como uma sobreposição do poder do Estado em relação à Igreja, o que era considerado inadmissível.
1874
Revolta do Quebra-Quilos
Rio de Janeiro, Paraíba, Pernambuco, Alagoas  e Rio Grande do Norte
Pequenos proprietários, comerciantes e consumidores.
Ao mudar o velho sistema de pesos e medidas, o governo do Visconde de Rio Branco introduziu também a cobrança de aluguéis e taxas dos novos sistemas de aferição dos pesos e medidas, o que onerava os comerciantes, aumentando ainda mais o descontentamento da população com relação às mudanças, provocando inúmeras reações de rebelião.
1896 a 1897
Guerra de Canudos
Sertão  da Bahia
Jagunços, camponeses  e ex-escravos.
Rejeitando as medidas secularizadoras adotadas pela República, o líder Antônio Conselheiro tentou criar uma comunidade de santos, onde as pessoas viveriam unidas pela fé, exercendo práticas religiosas tradicionais. Ele acreditava que a cobrança de impostos e o casamento civil eram práticas contrárias ao que a Igreja preconizava e que o modo de vida defendido por ele poderia acabar com as diferenças sociais. Canudos foi inteiramente destruída pelas forças republicanas em 1897.
1912 a 1916
Guerra do Contestado
Paraná  e Santa Catarina
Trabalhadores sem-terra, liderados  pelo monge  José Maria.
Os moradores da região reivindicavam o direito de propriedade das terras que cultivavam, ocupadas por oligarquias regionais e duas empreendedoras estadunidenses que operavam ali, responsáveis pela implantação da via ferroviária que uniu o Rio Grande a São Paulo, e uma madeireira. As empresas tinham interesse em explorar a floresta nativa, de onde a população tirava seu sustento, mas o governo apoiava a expulsão de José Maria e seus seguidores, que foram severamente reprimidos por um grande contingente de soldados equipados com fuzis, canhões, metralhadoras e até aviões.


1. Escolha um dos eventos históricos e faça uma pesquisa que contemple:
a) nome do evento, data, local e contexto em que ocorreu; 
b) circunstâncias que levaram ao acontecimento; 
c)  as lideranças e os objetivos dos diferentes grupos que participaram do episódio; 
d) o tipo de diálogo e/ou interlocução desenvolvido entre representantes dos grupos divergentes, com a finalidade de firmar acordos e tratados de cooperação mútua; 
e) descrição sucinta do desenrolar da revolta e/ou rebelião, em termos da mobilização das facções em defesa de territórios, bens, membros dos grupos, ideias e objetivos; 
f) análise e conclusão dos resultados do  episódio.