Texto 1:
O conflito pela terra
Verifique
que os direitos sociais e a história da cidadania no Brasil, são fruto de um
longo processo histórico, ou seja, é fruto e foram construídos em diversos
contextos sociais e políticos.
É
importante lembrar que mudanças introduzidas no Primeiro e Segundo Reinados não
podiam ser debatidas, questionadas, defendidas ou deliberadas por
representantes do povo. Durante o Império, em que vigorou uma Monarquia
Constitucional, e posteriormente, após a proclamação da Primeira República,
parcela significativa da população estava excluída do processo de decisão
eleitoral, como apontam LUCA in PINSKY:
“A esmagadora maioria da população vivia nas áreas
rurais e estava submetidas aos desígnios dos grandes proprietários. Em 1920,
apenas 16,6%, dos brasileiros residiam em cidades com vinte mil habitantes ou
mais, enquanto a taxa de analfabetismo girava em torno de 70%.”[1]
Vê-se
ainda, que a utilização do trabalho escravo, tanto indígena quanto do negro
africano, teve um profundo impacto nas relações sociais no Brasil. As
populações que viviam sob esse regime sofreram a opressão do trabalho
compulsório, dos maus-tratos, da tortura dos castigos, das doenças e do
extermínio. Verificou-se que muitos escravos procuraram fugir da condição de
cativos, refugiando-se em comunidades (quilombos), onde buscavam preservar
certa autonomia, criando estilo de vida e cultura próprios, produzindo
alimentos e comercializando com comunidades vizinhas; ou rebelaram-se no
interior das próprias fazendas negociando melhores condições de vidas com seus
senhores. Em algumas cidades, como Salvador, essas revoltas reuniram cativos e
libertos de diversas origens étnicas, que lutaram pela libertação dos escravos,
pela liberdade de professar suas religiões e crenças, e, pelo controle do poder
local.
Por sua
vez, proprietários de terras sem escravos, homens livres pobres, fossem eles
brancos, mestiços, indígenas, negros libertos, escravos fugidos, pequenos
comerciantes e trabalhadores que viviam do que cultivavam nos espaços de terras
cedidos pelos grandes proprietários, ou daquilo que extraíam das matas e
margens dos rios, sofriam a opressão dos grandes senhores de escravos, os quais
detinham a maior extensão de terra e também o poder político local (eram
delegados de polícia, juizes municipais ou representantes da Guarda
Nacional).
As
populações mencionadas acima, tinham relações diferentes com a terra, pode-se
ver, que os senhores de escravos, e após a Abolição, os fazendeiros do
café e grandes proprietários rurais.
Alguns indivíduos vivam na condição de posseiros, cultivando roças e mantendo
sítios em áreas que muitas vezes eram reivindicadas por grandes proprietários
que obtinham direitos a elas por meio do sistema de concessão de sesmarias[2].
Outros viviam como agregados nas fazendas , sem direitos à propriedade da
terra, obrigados ao pagamento de tributos, em forma de trabalho ou produtos,
dependendo da época e das condições impostas pelo fazendeiro.
Perceba que
as relações de poder no século XIX e início do século XX eram extremamente
desiguais, e a luta política era intensa e violenta. O que estava em jogo não
era o exercício de um direito de cidadão, mas o domínio político local. O chefe
político local, também conhecido como coronel[3],
não podia perder poder: a derrota representava desprestígio e a perda de
controle de cargos públicos.
Por esse
viés, a manutenção do poder por chefes locais se dava por meio do
“clientelismo”, geralmente os segmentos da população mais pobre, garantia aos
primeiros os votos necessários nas eleições legislativas para o Senado e para a
Câmara dos Deputados durante o período da Monarquia Constitucional, perpetuando
assim o poder das oligarquias[4]
rurais.
As tensões sociais entraram em crise e diversos conflitos
vieram à tona, como as Guerras de Canudos e Contestado, ambos movimentos
marcados por uma profunda reação à injustiça dos fazendeiros, dos senhores de
escravos, das oligarquias rurais, representadas pelo poder da República. Porém,
deve-se ter em mente que essas revoltas embora muito diferentes entre si,
ocorreram em um contexto histórico e político em que as camadas mais pobres da
população não tinham representantes junto ao governo que defendessem seus
interesses; as condições de vida eram muito precárias e o autoritarismo dos
líderes políticos locais , bem como dos governos provinciais, não favorecia a
negociação das demandas sociais dessas populações.
[1] LUCA,
Tânia Regina. Direitos sociais no Brasil. In PINSKY,Jaime; Carla B. (Orgs.) História da Cidadania, 4. ed.
2. reimp. São Paulo: Contexto, 2008. p.469-470.
[2] Antigo
sistema de concessão de terras consideradas incultas ou abandonadas pela Coroa
portuguesa aos colonos, que perdurou até o século XIX.
[3] Na época
do Império, a guarda Nacional era uma instituição militar cujo posto mais alto
era o de coronel. Geralmente a pessoa que ocupava essa posição hierárquica
exercia grande influencia política, sobretudo nos municípios. Com o tempo a
guarda perdeu a sua natureza militar, mas aqueles que ocupavam a posição de
coronel continuavam a ter muito poder. Desse modo, o termos coronel passou a se
referir ao chefe político local.
[4] Forma de
governo em que o poder está nas mãos de um pequeno grupo de indivíduos.
Texto 2:
O conflito pela terra
No Brasil,
a população que aqui residia, em sua diversidade, sejam nações indígenas, os
diversos grupos escravos de origens étnicas as mais variadas, as populações
ribeirinhas, os camponeses e trabalhadores rurais, homens livres e negros
libertos, pequenos comerciantes, mestiços e outros que compunham a maior parte
do que hoje denominamos “povo brasileiro, sempre encontrou meios de se
manifestar, organizar, mobilizar e atuar em muitas formas, de modo a
reivindicar interesses mudanças junto aos grupos sociais dominantes. Embora,
não se possa falar ainda em movimentos populares propriamente ditos, constituem
participações políticos relevantes na história do Brasil”.
Revoltas e
rebeliões, em geral, ocorreram pela disputa e posse de territórios, pelo
direito à exploração de minérios, especialmente o ouro, e também de exercer
atividades comerciais, vendendo e usufruindo livremente do lucro obtido a
partir da comercialização da sua produção, revolta quanto ao aprisionamento e
escravização de índios e negros africanos, cobrança de impostos pelo governo,
abuso de poder das autoridades e opressão de oligarquias rurais sobre a
população mais pobre, que vivia do trabalho da terra.
Tais
revoltas e rebeliões se assemelharam por terem sido de forte caráter popular e,
na maior parte das vezes, terem contado com a participação de vários grupos dos
setores mais pobres da população, como populações ribeirinhas, homens livres
pobres, mestiços, negros “de ganho” e escravos, sertanejos entre outros. Diferem
pelas motivações e circunstâncias que levaram aos acontecimentos. Por exemplo:
* Durante o
Primeiro Reinado (1832-1840) tiveram um caráter fortemente oposicionista aos
governos locais e, muitas vezes, traziam o objetivo de tomar o poder e tornar
independente do restante a província ou região do Brasil.
* A partir de
1850, ocorreram revoltas contra medidas adotadas pelo governo que interferiam
na vida da população de formas consideradas ilegítimas (esse foi o entendimento
em relação à interferência do Estado nas funções tradicionalmente atribuídas à
Igreja (secularização) e, na mudança do sistema de pesos e medidas, que
transformaram a comercialização dos produtos então vigente).
* Já na
instauração da República (1889), os movimentos populares tiveram como principais
características a luta pela terra , a oposição ao poder dos coronéis e das
empresas exploradoras das regiões em disputa e a força da religiosidade
popular, que mobilizou as populações em torno de suas crenças contra as forças
do governo arregimentadas para combatê-las.
Questões:
1. Com base no texto cite os principais fatores que
levaram às revoltas e rebeliões no Brasil do século XIX.
2. Utilizando o texto compare os eventos ocorridos em
1832 e 1840 e aqueles ocorridos a partir de 1851 (quais suas características,
em que se assemelham e, em que se diferenciam).
qual a resposta?
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