segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O Movimento Operário - 3º Ano

Movimento Operário no Brasil

Diferentemente do que ocorreu na Inglaterra, a formação da classe trabalhadora industrial urbana ocorreu bem mais tarde, no Brasil do que nos países europeus. Devido ao fato de que, até a vinda da Corte Portuguesa, a instalação de qualquer tipo de indústria manufatureira era proibida na colônia. Isso porque Portugal desejava deter o monopólio da comercialização de produtos manufaturados para o Brasil.  Desse modo, até 1808, a maior parte das ferramentas, dos tecidos, dos armamentos, munições cerâmicas, livros, entre outras coisas vinha de Portugal. Após a vinda da Corte (família real), deu-se a abertura dos portos para as nações amigas, O Brasil passou a comprar produtos da Inglaterra, e o consumo diversificou-se. Porém, a entrada maciça de produtos ingleses no mercado brasileiro dificultou muito o surgimento de uma indústria nacional, não havia como competir em quantidade e variedade.
O interesse no desenvolvimento industrial só foi possível a partir de 1850, quando o tráfico de escravos foi proibido. Isso gerou demanda de mão de obra e estimulo a entrada de um número significativo de imigrantes estrangeiros, que viriam ajudar a formar a classe operária assalariada. Inicialmente, as condições de trabalho dos operários de fábrica eram tão ruis quanto na Inglaterra: homens, mulheres e crianças trabalhavam longas horas, sem direitos á férias, indenização  por acidente de trabalho ou qualquer tipo de proteção por parte do Estado (a  maior parte dessas pessoas trabalhavam em fabricas nos principais centros urbanos, na virada do século XIX para o XX, no rio de Janeiro e São Paulo).

“No início dos anos 1920, a classe operária brasileira era pequena e se formara recentemente, não chegando a 300 mil pessoas. Internamente, porém, já podia ser considerada diversificada, tanto do ponto de vista social, quanto político. No Rio de Janeiro, por exemplo, a industrialização era mais antiga e o perfil do operariado tendia a ser mais nacionalizado. Segundo José Murilo de Carvalho, havia, contudo uma presença expressiva de portugueses, cuja cultura e tradição não eram muito diferentes da brasileira, e de operários do Estado e membros da população negra, incluindo ex-escravos. Comparativamente em São Paulo, a maior parte dos operários era de imigrantes, especialmente italianos e espanhóis, e a presença de empresas públicas e do operariado era pequena”.

A mistura de operários, de origens diversas gerou comportamentos políticos diferentes nas duas cidades. A presença de imigrantes e estrangeiros trouxe muitas idéias vigentes no contexto europeu para o movimento operário no Brasil, essas idéias influenciaram movimentos diferentes, e muitas vezes antagônicos. É possível identificar, nas duas primeiras décadas do século XX, pelo menos quatro grandes grupos de interesse no interior do movimento operário:

  • Amarelos ou reformistas: eram setores menos agressivos, mais próximos do governo. Ainda que buscassem a melhoria das condições de trabalho e de vida para os trabalhadores, não se opunham à ordem estabelecida, mantendo assim uma relação “clientelista” com seus empregadores.
  • Anarquistas: constituíam os setores mais radicais, que rejeitavam qualquer relação com o Estado e com a política, bem como os partidos, o Congresso e mesmo com a pátria. Para os anarquistas, o Estado ou qualquer outra instituição autoritária hierarquicamente superior era considerado dispensável e até mesmo nocivo para o estabelecimento de uma comunidade humana autêntica. Dessa forma, eram contra qualquer tipo de organização ou dominação patronal.
  • Comunistas: organizados oficialmente em1922, defendiam a tomada do poder por meio da revolução. A causa operaria dos comunistas era lutar contra o sistema capitalista, substituindo o controle do Estado pelo partido, centralizado e hierarquizado, até que pudesse ser criada uma sociedade sem classes, onde a propriedade privada seria abolida e os meios de produção seriam de todos. Desse modo, o  Estado se tornaria desnecessário e posteriormente deixaria de existir.
  • Socialistas: menos radicais que os anarquistas e comunistas, acreditavam que podiam fazer avançar os interesses da classe operaria por meio da luta política, ou seja, da conquista e do exercício dos direitos políticos.


Do ponto de vista da cidadania o movimento operário significou um avanço inegável, sobretudo ao que se refere aos direitos políticos e sociais. O movimento lutava por direitos básicos como o de organizar-se, de escolher o trabalho e fazer greve. Os operários lutaram também por uma legislação trabalhista que regulasse o horário de trabalho, o descanso semanal, as férias, e por direitos sociais, como: seguro contra acidentes de trabalho, e aposentadoria. Tudo isso teve impacto na forma como o Estado brasileiro se relacionava com as questões de trabalho na Primeira República. Até então, a posição do governo era manter-se distante das relações entre patrões e empregados, interferindo nos conflitos por meio da força policial. Naquela época a “questão operária” era entendida como uma “questão de polícia” e tendia a ser vista como uma agitação política perturbadora da ordem social. Por essa razão foram votadas leis de expulsão de operários estrangeiros acusados de anarquismo e posteriormente, a hostilidade contra setores mais radicais ficou evidente quando o partido comunista foi considerado ilegal no mesmo ano de sua fundação (1922). 

Responda das questões abaixo:
1. Quais são os fatores apontados no texto que explicam porque a formação de uma classe trabalhadora industrial urbana se desenvolveu tardiamente no Brasil?
2. As condições dessa classe trabalhadora industrial urbana no Brasil eram as mesmas que as da Inglaterra? Explique.
3. Pode-se afirmar que essa classe trabalhadora tinha a mesma formação independentemente da cidade em que se localizava? Justifique.
4. Analise as condições de trabalho.

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